Antônio não resiste à covid, mas estará presente ao lembrarem de sua alegria
Pai, marido e trabalhador querido e amado, Antônio acabou falecendo em 16 de agosto, nove dias após ser internado
Aos 67 anos, Antônio Lemes da Costa deu adeus a esta vida para morar na eternidade. Na memória da família e dos amigos certamente ele permanecerá, com o sorriso e a alegria que lhe eram características.
Com três filhos, a vida simples de Antônio foi construída como motorista e seu prazer era poder “prosear” com os amigos.
Morador do bairro Jardim Centenário por 40 anos, tinha amizades e muito conhecimento na região, e o costume de sair para conversar, mantido mesmo durante a pandemia. “O prazer dele era estar com pessoas do conhecimento dele”, diz o filho Sidney Gonçalves da Costa, 41 anos.
Antônio era também querido e admirado no trabalho. Primeiro servidor da Rede Solidária, projeto do governo do Estado no bairro Dom Antônio Barbosa, ele esteve por 15 anos como servidor da Sedasth (Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho) naquele local.
O carinho era tanto que foi uma colega de serviço a responsável pela sugestão de matéria em homenagem a ele. Maria Izabela Carvalho, 32 anos, também servidora pública na Rede Solidária, procurou o Campo Grande News afirmando que o “guerreiro perdeu a batalha” contra a covid, mas certamente a venceu em vida, de tantas outras maneiras.
“Eu agradeço a Deus pelo privilégio de tê-lo conhecido e fiquei muito triste com sua partida”, afirmou Maria Izabela, que lembra que “seu Antônio” era “um funcionário prestativo, bondoso, alegre, atendia com boa vontade. Era um amigo, uma pessoa muito querida”.
Na página da secretaria no Facebook, nota de pesar ressaltou “nossa gratidão pela amizade e por sua contribuição com os serviços públicos prestados nesta secretaria, ao Governo do Estado, e também à sociedade de nosso estado quando no serviço privado do transporte de cargas”.
Para o filho, como o pai estava afastado do trabalho devido ser grupo de risco para o novo coronavírus, a possibilidade é dele ter sido infectado enquanto andava pelo bairro onde morava e conversava com os vizinhos e amigos.
Os primeiros sintomas foram no final de julho, quando procurou atendimento no posto de saúde do bairro Iraci Coelho, fez um teste rápido de covid, que deu negativo e voltou para casa com alguns remédios para dor, já que reclamava de dores no corpo, além de ter apresentado um resfriado forte e coriza “que não cortava”.
Dias depois, por volta de 4 de agosto, Antônio voltou à unidade de saúde, mas não passou por novo exame de coronavírus. “Ele agravou. Teve falta de ar, dores nas costas na altura do pulmão. Ele tomava os remédios e cortava a dor, mas passava o efeito e voltava”. Apesar disso, foi liberado para voltar para casa novamente.
Sem ter mais condições de suportar a gravidade, ele foi com um dos filhos até o posto 24 horas do bairro Aero Rancho, de onde saiu direto para ser internado no Hospital Regional.
“Ele foi internado direto como suspeita de covid. Passaram as receitas de remédios, comprei e ele foi pro hospital. De manhã, quando chegou, ele ficou na área azul, mas de madrugada piorou e foi levado pra UTI (Unidade de Terapia Intensiva)”, lembra Sidney.
Apesar de tomar continuamente remédio para hipertensão, o filho diz que a saúde do pai era “tranquila”, mas não resistiu ao novo coronavírus e acabou falecendo em 16 de agosto no Hospital Adventista do Pênfigo, para onde foi transferido.
Legado – Para Sidney o mais difícil da perda do pai serão “os próximos dias”, em que chegam os feriados, período em que a família se reunia. “Não sabemos como vamos administrar isso ainda”, diz.
Apesar disso, afirma que vai permanecer na família a energia e a alegria que Antônio exalava.
“Era alegre, expansivo, isso definia 99,9% da sua personalidade. Era forte, seja pra qualquer situação que fosse não abaixava a cabeça, tinha boa auto-estima e uma energia forte”, salienta.
Para ele e os irmãos, a prioridade agora é cuidar da mãe, viúva de Antônio, Maria Gonçalves da Costa, de 61 anos. Foram 45 anos de casamento.
“Ela também testou positivo para covid, a única de nós, por enquanto. Está terminando o isolamento agora. Mas está bem assistida, estamos próximos dela. Ela não nega a dor, mas ela é forte”, sustenta Sidney.
Por fim, ele reforça que se há algo a ser preservado é a união da família, em homenagem à memória do pai.
“A mensagem que ele sempre trazia consigo era de confiar em Deus e ter a família por perto, junto. Prezava muito pela união da família e vamos manter isso”.