Especialistas atribuem aumento de casos de violência à justiça tardia
O aumento de casos de violência contra a mulher em Campo Grande assustou e deixou em alerta especialistas no assunto. Para eles, o problema é reflexo de um conjunto de fatores, como a justiça tardia que dá a sensação de impunidade, associada ao modelo de sociedade patriarcal e machista, além da falta de políticas públicas de prevenção e de promoção de autonomia da ala feminina.
Nos 12 meses de 2013, seis mulheres foram assassinadas por companheiros na Capital. Somente no primeiro mês deste ano, foram três casos, fora a morte de uma douradense na Espanha e da suspeita de espancamento da jovem Giovanna Nantes Tresse de Oliveira, de 18 anos.
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“É reflexo das festividades de final de ano, do excesso de bebida, de drogas, do ciúmes doentio, da dificuldade financeira e da cultura machista a patriarcal”, analisou a subsecretária da Mulher e da Promoção da Cidadania do Governo de Mato Grosso do Sul, Elza Maria Loschi.
Para o sociólogo e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), David Tauro, a “democracia é uma farsa e o que existe é uma oligarquia machista”. “Os homens acham que a mulher é uma posse, que podem abusar delas. Para piorar a situação, as leis são brandas, a justiça é tardia e dá a sensação de que os agressores podem escapar da punição”, comentou.
Assustada e preocupada com a avalanche de violência contra a mulher, a vereadora Carla Stephanini (PMDB) destaca a necessidade de “mudar o comportamento da sociedade”. “O fenômeno da violência é um problema social, cultural e ideológico”, disse. “Isso só vai mudar à medida que as pessoas tomarem consciência de que o modelo machista e patriarcal é errado e que o certo é uma sociedade justa e igualitária”, emendou.
Presidente do CDDH (Centro de Defesa dos Direitos Humanos Marçal de Souza), Paulo Ângelo de Souza também atribui o momento à falta de ações na área educacional e social. “À medida que as mulheres recebem formação, vão se apropriando dos direitos e enfrentam com mais sabedoria o problema”, avaliou. “A mulher mais escolarizada vai lutar para tirar o marido do alcoolismo e lutar por seus direitos”, reforçou.
Outro problema, na visão do professor da UFMS, é a dificuldade de a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) de agir. “Falta policiamento e atendimento 24 horas”, frisou. “Pior que o problema virou jogo eleitoreiro e só será resolvido a partir do momento que os políticos se dediquem aos fins para que foram eleitos e pararem de brigar entre si”, acrescentou.
A vereadora Carla cobrou ainda urgência na instalação da Secretaria Municipal da Mulher e a reativação imediata do Conselho Municipal da Mulher. “Estamos sem controle em Campo Grande e impedidos de captar recursos federais para promover ações de combate à violência”, ressaltou.
Outra saída, na visão dos especialistas, é aumentar as ações de prevenção, ampliando as palestras educativas nas escolas e nas igrejas. “A mulher precisa romper o silêncio”, defendeu Elza. “Também precisamos de leis mais rigorosas”, emendou o professor da UFMS.
Questionada sobre as ações do Governo do Estado, a subsecretária da Mulher informou que ainda em 2014 será construída a Casa da Mulher Brasileira, em Campo Grande, onde funcionará a Deam por 24 horas. “O Governo Federal já assinou contrato para uma empresa construir a casa, que também disponibilizará viaturas para ir até o local do crime”, destacou.
Em março, quando é comemorado o Dia Internacional da Mulher, o governo intensificará rodada de palestras e trará profissionais de renome nacional para debater o assunto. Além disso, uma unidade móvel irá até os bairros e assentamentos para orientar as mulheres.