Criação de municípios na fronteira beneficia crime organizado, indica estudo
Pesquisa aponta que 16 cidades paraguaias foram emancipadas para atender aos interesses de criminosos

Estudo elaborado por especialistas revela que dos 36 municípios criados nos últimos 20 anos no Paraguai, 16 surgiram para beneficiar o crime organizado. Todos eles ficam nos departamentos de Amambay, Concepción e Canindeyú, na linha internacional com Mato Grosso do Sul.
RESUMO
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Um estudo conduzido pelos pesquisadores Lucas Boh e Natasja Görzen revela que 16 dos 36 municípios criados no Paraguai nos últimos 20 anos surgiram para beneficiar o crime organizado. As cidades, localizadas nos departamentos de Amambay, Concepción e Canindeyú, foram emancipadas sem cumprir requisitos legais. A pesquisa aponta que a criação desses municípios serve como estratégia para fragmentar o território e facilitar o controle político por organizações criminosas. Entre os casos emblemáticos está Zanja Pytã, cidade próxima à fronteira com Mato Grosso do Sul, cujo primeiro prefeito foi preso por tráfico de drogas e posse ilegal de armas.
Conforme o trabalho dos pesquisadores Lucas Boh e Natasja Görzen, cidades localizadas em áreas sob o domínio de traficantes de drogas e de armas e dos fornecedores de mercadorias contrabandeadas para o mercado brasileiro foram emancipadas sem cumprir requisitos legais.
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Para elaborar o estudo, os pesquisadores usaram dados da Justiça Eleitoral e do Instituto Nacional de Estatísticas do Paraguai, além de entrevistas com moradores da chamada “zona vermelha” do crime.
“Nos últimos 20 anos, 36 novos municípios foram criados em todo o Paraguai, e 16 ficam na zona vermelha, formada pelos departamentos de Amambay, Concepción e Canindeyú, área com a maior taxa de crime organizado e violência geral", explicou Boh em entrevista à rádio Monumental 1080 AM.
De acordo com o jornal Última Hora, um dos mais influentes do Paraguai, o trabalho científico aponta que a criação de municípios funciona como estratégia para fragmentar o território e facilitar o controle político.
"Para desenvolver atividades criminosas, é importante ter controle territorial, e esse controle é alcançado por meio do controle político. A maneira mais fácil de controlar o território é por meio de um prefeito", acrescentou Lucas Boh.
De acordo com o pesquisador, oito municípios foram emancipados por deputados suspeitos de ligação com o crime organizado. Em 12 dos 36, o critério do número de habitantes previsto na Lei Orgânica Municipal não foi respeitado. Como consequência, houve prefeito eleito com 1.400 votos e vereador empossado após receber menos de 100 votos.
Entre os municípios criados na “zona vermelha” está Carmelo Peralta, onde atualmente é construída a ponte da rota bioceânica ligando Porto Murtinho (MS) ao Paraguai. Também fazem parte da lista povoados bem próximos do território sul-mato-grossense, como Cerro Corá, Karapai, Sargento José Félix López e Zanja Pytã.
Povoado de 12,5 mil habitantes localizado a 16 km de Pedro Juan Caballero e separado por uma rua de terra do distrito de Sanga Puitã, no município de Ponta Porã, Zanja Pytã é citado como exemplo da força do crime organizado na fronteira.
Com forte presença de narcotraficantes, a cidade se tornou estratégica para o envio de cargas de maconha e cocaína ao Brasil. Seu primeiro prefeito, Manuel Ramão Velázquez, que antes foi vereador em Pedro Juan Caballero, foi preso por tráfico de drogas, posse de armas de fogo e outros crimes. Em um dos flagrantes, ele estava com um fuzil calibre 7.62.
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