ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  26    CAMPO GRANDE 33º

Arquitetura

Ao atravessar fronteira, retrato de uma história de amor virou restaurante

Pepe's é o restaurante que completou 50 anos e mantém memórias de um grande amor que faleceu

Thailla Torres e Aline dos Santos | 23/01/2020 06:12
Restaurante guarda memórias de uma história de amor por Helena e pela arte. (Foto: Marcos Maluf)
Restaurante guarda memórias de uma história de amor por Helena e pela arte. (Foto: Marcos Maluf)

A Avenida Dr. Francia, em Pedro Juan Caballero, é o trecho que recepciona quem deixa Ponta Porã com destino à cidade paraguaia vizinha, a 323 quilômetros de Campo Grande. Ali, não só as variedades em produtos, relativamente mais baratos, chamam a atenção de quem passa. Um prédio antigo, de fachada amarela e detalhes em madeira, revela 50 anos do Pepe’s Restaurant, lugar onde clientes alimentam a fome e o afeto.

Na era em que as misturas se acentuam na arquitetura, o prédio mantém detalhes “folclóricos”, do tipo que aguarda o turista, com “estilo fronteira seco” um pouco espanhol e um pouco guarani. É o que interpreta o arquiteto e urbanista Elvio Garabini, que inspirou o Lado B a conhecer o restaurante histórico da fronteira.

Proprietária inaugurou restaurante há 50 anos. (Foto: Marcos Maluf)
Proprietária inaugurou restaurante há 50 anos. (Foto: Marcos Maluf)

Ao passar pelo portão de ferro na entrada, encontramos a proprietária, Helena de Cordoue Lunardelli, 69 anos. Uma mulher enérgica que, mesmo com dores no joelho, se recusa a parar suas atividades. Na recepção, ela abraça e cumprimenta a equipe de reportagem. Essa é a Helena, uma pessoa calorosa, do tipo que fala que “cozinha com amor”.

O restaurante foi aberto em 1969, por Helena e José Lunardelli, o marido, que se despediu da vida em 2009. Filho de italiano que chegou do Paraná para trabalhar numa propriedade do Paraguai, José se apaixonou por Helena e casaram-se em novembro de 1967.

Pepe’s é o José. O apelido nasceu de amigo espanhol que o chamava assim. “Ele dizia que lá não falava José, sim Pepe”, lembra Helena.

Além do aroma de sopa paraguaia legítima, o estabelecimento é um retrato da história de amor vivida entre Helena e José. Ainda hoje, ele está presente em vários pontos do salão.

Ladrilhos nunca foram trocados. (Foto: Marcos Maluf)
Ladrilhos nunca foram trocados. (Foto: Marcos Maluf)
Pepe's tem objetos que estão ali há 5 décadas. (Foto: Marcos Maluf)
Pepe's tem objetos que estão ali há 5 décadas. (Foto: Marcos Maluf)

Logo na entrada, além do nome, há um hall com piso hidráulico que, colocado por José, nunca foi trocado. Entrando, à direita, você se depara com uma porta de madeira, lotada de imagens entalhadas, também feitas por ele, e que demoraram dois anos e meio para ficar prontas. “Ele era um artista de mão cheia”, afirma.

José também pintou um quadro que decora o salão. A imagem mostra o rosto de Helena. “Foi pintado quando a minha filha tinha 40 dias de vida”.

Outra marca do restaurante, que está no cenário há cinco décadas, é uma prensa, utilizada para produzir fardo de crina de cavalo. O objeto pertencia ao pai de Helena e foi trazido de uma fazenda que tinha em Aquidauana.

Local tem decoração que mistura estilos. (Foto: Marcos Maluf)
Local tem decoração que mistura estilos. (Foto: Marcos Maluf)
E luz baixa que dá toque de romantismo. (Foto: Marcos Maluf)
E luz baixa que dá toque de romantismo. (Foto: Marcos Maluf)

A fala que sai da boca da proprietária ilumina o próprio olhar, como quem sente saudade e orgulho do tempo vivido ao lado do grande amor. Nascida em Ponta Porã, filha de mãe paraguaia e de pai francês, Helena, que sempre morou na mesma rua, lembra-se de uma fronteira antiga. “Não tinha telefone, energia elétrica, asfalto, água encanada, água de poço”, recorda.

Ela se define como fronteiriça e garante um cardápio que passeia pela culinária típica a pratos convencionais. Além de opções elaboradas com carnes e peixes, o carro-chefe da casa é a sopa paraguaia feita com fubá de milho branco, “cebola, leite, muito queijo e muito amor”.

A trilha sonora é feita todas as noites por um grupo de música tradicional paraguaia. “Os Caminhantes” têm dois integrantes. Eram cinco, afirma um deles, mas restam dois porque uns se mudaram e o outro faleceu.

Pintura no salão mostra Helena pelos traços do amor José. (Foto: Marcos Maluf).
Pintura no salão mostra Helena pelos traços do amor José. (Foto: Marcos Maluf).

Daquele amor certeiro nasceu um restaurante que ainda guarda nas paredes a essência de um artista. “Ele gostava muito de pintura e de música”, diz Helena. E esse talento marcou a memória de muitos clientes, que, até hoje, voltam ao restaurante para um encontro afetivo com os sabores e as histórias. “O Pepe’s virou uma tradição. Muita gente volta aqui dizendo que esteve com o pai quando era criança e praticamente vê o mesmo salão e a comida tem o mesmo sabor”, conta.

Hoje, toda a família trabalha no restaurante e participa dos trabalhos. Mas o toque final de cada prato é feito por Helena, que não pensa em parar e quer manter viva a história de um amor que fez nascer uma família feliz.

Para quem quiser conhecer o restaurante, o Pepe’s fica na Avenida Dr. Francia, 8500, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai.

Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563 (chame agora mesmo).

Confira a galeria de imagens:

  •  (Foto: Marcos Maluf).
  •  (Foto: Marcos Maluf).
  •  (Foto: Marcos Maluf).
  •  (Foto: Marcos Maluf).
  •  (Foto: Marcos Maluf).
  •  (Foto: Marcos Maluf).
  •  (Foto: Marcos Maluf).
Nos siga no Google Notícias