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Arquitetura

Loft premiado é inspiração para quem vive até em cubículos de 40 m²

A convite da Casacor MS, Lado B visitou principal edição da mostra e conversou com Nildo José, arquiteto que criou um "Loft Ninho"

Ângela Kempfer | 23/07/2018 12:13
Suíte e ao fundo a sala de estar do Loft Ninho, de Nildo José na Casacor SP. (Foto: Divulgação)
Suíte e ao fundo a sala de estar do Loft Ninho, de Nildo José na Casacor SP. (Foto: Divulgação)

Casa lasseia como sapato quando há disposição para fazer concessões. Assim, é possível ampliar bem os espaços nas versões minúsculas de apartamentos à venda hoje em Campo Grande. "Amaciar" a rotina até dentro de 40m² não caleja, desde que sejam feitas trocas inteligentes, com coragem.

Na maior mostra de arquitetura das Américas, a Casacor São Paulo, ambientes incríveis fazem sonhar com vida de rico, mas observando como alguém que depois da visita vai retornar a um cubículo, a experiência supera e muito a avaliação estética.

Garoto prodígio da arquitetura nacional, o baiano Nildo José é um dos profissionais dedicados ao poder da simplicidade e criou para a mostra o "Loft Ninho" dentro de espaço generoso de 80 m², divido em duas áreas. A metade é ocupada por uma grande cozinha, mas olhando apenas para os outros 40m² restantes, que comportam living e suíte integrada, dá para imaginar o mesmo projeto adaptado a um dos encurtados imóveis que a renda do trabalhador pode comprar.

"É preciso fazer concessões. Para ampliar o espaço dentro de um apartamento tão pequeno, o morador pode, por exemplo, abrir mão da área de serviço e pagar para lavar e passar as roupas fora. Assim, ele ganha alguns metros quadrados e conforto", sugere Nildo em entrevista ao Lado B.

O jeito de ver a vida define tudo no projeto dele, vencedor na categoria Prêmio Casa nesta edição da mostra. Sem símbolos de luxo, todos elementos buscam afeição. Assim, na verticalização da cidade, o morador tem um refúgio.

Na área de cerca de 40m² destinadas ao living e suíte, caixa branca recebe quarto e banheiro, com terraço verde.
Na área de cerca de 40m² destinadas ao living e suíte, caixa branca recebe quarto e banheiro, com terraço verde.

Diante da beleza da morada sem divisões, não dá para entender porque as construtoras ainda colocam paredes dentro de imóveis tão pequenos. No Loft Ninho não há essa necessidade de separação entre área social e íntima. O único obstáculo fica entre banheiro e sala de estar, feito de vidro, o que preserva a profundidade. 

Longe do trivial, o arquiteto revestiu de cerâmica a grande caixa branca que recebe com aconchego a suíte, com cama de casal rebaixada para absorver melhor todo o peso do dia que passou e estimular a regeneração cotidiana, proposta pelo "ninho". No alto, acessado por uma escada, o mezanino é cheio de plantas no projeto criado para a Casacor SP, respeitando à risca o conceito da mostra este ano que é “casa viva”.

Voltando à dura realidade do financiamento habitacional, o “terraço jardim” poderia ter um destino mais funcional em Campo Grande, mas isso exigiria um pé direito alto. "Essa área da suíte poderia ser repensada, para o mezanino ser usado como quarto, liberando a parte inferior para o banheiro disposto com mais privacidade. Iria sobrar espaço para uma cozinha pequena, resolvendo outra necessidade fundamental", explica Nildo.

Para o lugar parecer bem maior, Nildo levou do chão ao teto o mesmo revestimento de madeira. No Casacor São Paulo, ele usou o Carvalho Europeu, da Oscar Onno Paris, indústria de alto luxo. Mas o efeito de unidade e amplitude a gente consegue até comprando aquele piso de madeira em promoção de fim de ano da Leroy Merlim.

Cartela de cores claras e marcenaria bem projetada também ajudam. "A dica é investir em marcenaria inteligente e em móveis multifuncionais", reforça.

Na edição 2016 da Casacor SP, Nildo desenhou um banco de concreto enorme, embutido à parede, que percorreu todos os cantos de outro estúdio de de 44 m², que tinha até uma jabuticabeira suspensa por cabos de aço, com raízes contidas por técnica japonesa conhecida como kokedama. O móvel multifuncional servia de mesa, de aparador e de banco para assento em confraternizações, provando que mesmo em locais pequenos, quando há criatividade, “sempre cabe mais um".

Ao fundo, banco de concreto em projeto de 2016, para garantir banco em dias de festa.
Ao fundo, banco de concreto em projeto de 2016, para garantir banco em dias de festa.

A arquitetura silenciosa de Nildo José em quantidade de elementos, só fala alto no quesito afetividade, pela potência expressiva em muitos detalhes, também fáceis de adaptação em espaços pequenos.

A emoção pode surgir em formas ou mobiliário vintage. O forro inclinado, por exemplo, lembra as casas de criança e rompe as linhas convencionais de lofts, que normalmente remetem ao industrial.

Essa arquitetura afetiva que conforta a alma é, inclusive, sustentável. Pode estar naquela peça garimpada em lojas, com lembranças de bons tempos, ou herdada da casa dos pais. Na mostra que ocupa o Jockey Club de São Paulo, o arquiteto preservou esquadrias histórias, patrimônio valorizado pelo Verde Jockey, cor desenvolvida especialmente para o evento.

No alto, à esquerda, o coração suspenso tem 850 mil alfinetes.
No alto, à esquerda, o coração suspenso tem 850 mil alfinetes.

As obras de arte também podem liberar as sensações. O coração é elemento chave no projeto de Nildo no loft de 2018, mas na versão encomendada pelo arquiteto aparece com a dor de 850 mil alfinetes fincados em estrutura de isopor. 

Mas independente de metros quadrados e peças de decoração, a maior dica de Nildo é romper com crenças pessoais que muitas vezes nos levam aos piores negócios.

"Para mim, maior do que pensar em um imóvel é escolher o endereço. As pessoas podem morar muito melhor em prédios mais antigos, m casa mais modestas, mas em regiões melhor localizadas, perto do emprego, por exemplo. Assim, conseguem qualidade de vida, aproveitam o tempo, usam menos carro, andam mais e vivem a cidade", recomenda.

*O Lado B visitou a Casacor São Paulo a convite da Casacor Mato Grosso do Sul, marcada para outubro em Campo Grande.

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Esquadrias originais foram preservadas, outro elemento de memória afetiva.
Esquadrias originais foram preservadas, outro elemento de memória afetiva.
Espaço que completa o loft tem cozinha de estar com bancada de 5 metros, mesa de resina e armários com superfície metalizada.
Espaço que completa o loft tem cozinha de estar com bancada de 5 metros, mesa de resina e armários com superfície metalizada.
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