Com problema no coração, dor de Batista é não poder mais fazer vasos
Trabalho com o cimento foi sustento durante 30 anos; agora ele tem que parar para não morrer

Há dois anos, Juscelino Roberto Batista descobriu que o coração já não era mais o mesmo e que o ofício que salvou seus dias durante 30 anos, dos 78 de vida, não poderia mais ser exercido. Conformado, mas teimoso em continuar fazendo vasos de cimento, a contragosto dos familiares e do médico, Batista, como é conhecido, explica que, além de produzi-los, também já ensinou muita gente. Apesar do problema de saúde, sua dor é não poder mais trabalhar com o que ama.
RESUMO
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Juscelino Batista, conhecido como Batista, enfrenta problemas cardíacos que reduziram sua capacidade física, mas insiste em continuar produzindo vasos de cimento, atividade que exerce há 30 anos. Aos 78 anos, ele mantém uma pequena oficina no bairro Rita Vieira, apesar das recomendações médicas e da preocupação da família. Batista aprendeu o ofício com o irmão e transformou-o em uma fonte de renda estável, ensinando também outras pessoas. Ele descreve o trabalho como uma terapia, que o ajuda a esquecer os problemas. Apesar das limitações, ele segue produzindo devagar, mantendo viva a paixão pelo ofício que marcou sua vida.
O problema no coração ainda é um mistério e só os exames que ele tem feito dirão o que virá. Uma coisa já foi dita: Batista tem menos de 30% da capacidade do órgão de continuar batendo. A notícia foi dada pelo médico, conta Juscelino.
Apesar de morar no bairro Noroeste, Batista tem uma pequena oficina no bairro Rita Vieira. O espaço já foi três vezes maior nos tempos de ouro dele, mas a idade obrigou a diminuir o ritmo e o coração cobrou cada vez mais. Hoje ele anda devagar para fazer qualquer coisa ali, mas não abandona o local que ajudou a sustentar e formar os filhos.

“Tenho medo, mas vou fazer o quê? O médico mandou eu parar de trabalhar se eu quisesse viver. Mas faço devagarzinho um vaso ou outro. Não consigo pegar peso mais. Antes tinha um espaço enorme, aí fiquei doente e vim há dois anos para esse quadradinho. O médico já tinha me mandado parar nesse tempo, mas queria trabalhar. Aí agora estou me cuidando. Se eu morrer aqui ou lá em casa vai ser uma coisa. Minha esposa me liga sempre.”
Os filhos e a esposa não querem que Batista continue, mas ele não consegue abandonar e sempre promete se cuidar, maneirar no esforço físico. No local, ele instalou uma cama para descansar. “Eles falam de fazer um salário pra mim. Eu parei, mas às vezes tento.”
A profissão ele aprendeu com o irmão mais velho e logo conseguiu tocar o próprio negócio. Antes de se aventurar com o cimento e a arte, ele foi motorista de caminhão. Resolveu trocar a estrada pelos vasos e nunca se arrependeu disso. Apesar de tudo, quando lembra, ainda sente saudade.
“Sou de Rondônia, vim pra cá, aprendi com ele e deu certo. Eu era motorista, aí a molecada cresceu e falei pra mulher que não ia viajar mais. Eu gostava de viajar, estar na estrada, mas começou a ficar muito perigoso. Inventei isso. Deu certo, o salário melhorou. Dobrou, na verdade. Trabalho por conta, não tenho patrão, faço meu horário e venho o dia que eu quero. Fiz isso por 30 anos e chegou a hora de acabar, aquietar.”
Para ele, mexer com o cimento era como terapia, um modo de esquecer as coisas lá fora. Batista explica que, muitas vezes, ficava tão concentrado que os clientes chegavam a bater nas costas dele para chamar a atenção de que estavam ali. “Eu nem vi que eles entraram. Alivia muito a mente.”Professor com paciência de sobra, Batista conta que ensinou muita gente a fazer os vasos e passa a técnica. Segundo ele, o processo todo é possível de aprender em até cinco dias.
O primeiro passo é saber como bater a massa. Ali, Batista não usa betoneira, pois o equipamento não é adequado ao processo. Todo o trabalho é feito manualmente com a enxada. Depois, aprende-se o ponto da massa e a fazer as formas dos vasos.
“Uso uma massa fácil, chamada de seca, farofa. É tudo manual. Depois a montagem das fôrmas. Eu mesmo fazia elas. Aí, no outro dia, tira da forma, coloca no sol e começa a molhar. O segredo é a água. Precisa umedecer uns três dias, aí deu o tempo de cura.”
Depois, é hora do tratamento da parte externa da peça. Para isso, Batista usa um pincel e faz uma espécie de tinta com cimento. “Tiro o excesso com bucha.”
O sentimento é de felicidade em ver que a pessoa aprendeu algo com ele e que poderá ganhar dinheiro com isso. Inclusive, Batista relembra a época em que pessoas achavam que o investimento não cobriria os gastos. Hoje ele ri e fala que o salário é muito melhor que o de diversas profissões e que, se a pessoa aprende a pintar os vasos, consegue muito mais.
“É uma coisa simples de fazer, muita gente achou que eu não viveria bem fazendo isso. A matéria-prima não é cara, mas a mão de obra sim. Eu vendia os vasos de R$ 25 a R$ 500. Vendia de tudo. Sai muito bem todos os tamanhos, mas as pessoas buscavam mais vasos grandes para colocar fruta. Chegou a hora de parar. Estou quase fechado já.”
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