Odenil partiu após 35 anos vendendo pipoca e distribuindo afeto no Centro
Conhecido nas ruas de Campo Grande, pipoqueiro deixa legado de simpatia, trabalho e amor
Durante a tarde, quando o cheiro da pipoca se espalhava pelo Centro de Campo Grande, muitos nem sabiam o nome dele, mas todos conheciam a figura do vendedor que virou símbolo do comércio na região.
Odenil Vilagra, o “seo Odenil da pipoca”, se despediu da vida aos 72 anos na última quarta-feira (4), deixando saudade em quem cruzou seu caminho, fosse por um saquinho de pipoca ou por uma conversa rápida entre freguês e ambulante.
Natural de Corumbá, Odenil chegou sozinho à Capital em 1970, com apenas 17 anos, em busca de uma vida melhor. Ele morou com a irmã até 1982, quando se mudou para uma antiga favela que ficava no fim da Rua Maracaju, próximo à Ernesto Geisel.
Ali, ele conheceu Creuza de Carvalho, com quem construiu uma vida, casa e uma família com 10 filhos, 12 netos e 2 bisnetos. Em 1991, já acostumado a batalhar como servente de pedreiro, tomou coragem para começar um novo caminho.
“No começo ele teve vergonha de vender pipoca, mas minha avó foi pra rua com o carrinho, viu que dava dinheiro e ele se encorajou”, conta o neto Willian Nagata, de 31 anos.
Mais que um vendedor, seo Odenil era um retrato de resistência e simplicidade. Diariamente, saía de casa às 14h e voltava às 19h, religiosamente, sem faltar um dia sequer. “Ele era muito brincalhão, cuidou de todos nós. Mesmo morando numa região difícil, nunca deixou de trabalhar nem de nos proteger”, lembra Willian.
As noites da infância ficaram marcadas pelo som do carrinho chegando, o aroma do queijo derretido e a corrida das crianças para buscar as sobras. “Antes era comum faltar luz no bairro todo, e a única luz que a gente via era a do carrinho dele", detalha.
Seo Odenil seguiu firme no ofício até que passou a se sentir mal. O diagnóstico inicial foi anemia, mas depois veio a confirmação do câncer no estômago, já em estágio avançado. “A gente só pôde oferecer cuidados paliativos. Mas mesmo assim ele não se abalou. Sempre teve fé em Deus, até o fim”, conta o neto.
Para a esposa Creuza, ele também foi um homem íntegro. “Minha mae falou que ele sempre tratou ela com muito respeito e foi um marido muito bom”, pontua o neto.
Com sua partida, não se foi apenas um vendedor querido, mas um símbolo de dignidade e força. “Acho que o legado que ele deixa é o de um pai de família que nunca desistiu. Nunca abandonou a gente. Sempre esteve ali. Hoje em dia isso devia ser o normal, mas virou exceção. E meu avô foi essa exceção”, resume Willian.
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