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Na Íntegra

Pesquisadora aponta como enxergar o que não percebemos quando o tema é racismo

Especialista defende o combate às violências simbólicas e a ampliação de oportunidades para pessoas negras

Por Inara Silva | 20/11/2025 07:31

Reconhecer que o racismo existe é o primeiro passo para o letramento racial. A postura envolve ações desde o combate a todas as formas de racismo até a abertura de vagas e oportunidades para pessoas negras. Só a partir desse reconhecimento, afirma a pesquisadora Eugênia Portela, é possível construir uma sociedade mais justa, onde a valorização da população negra deixe de ser exceção e passe a ser regra.

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O reconhecimento do racismo é fundamental para o letramento racial e a construção de uma sociedade mais justa, afirma a pesquisadora Eugênia Portela. Segundo ela, negar sua existência impede avanços no debate público, mantendo um pacto silencioso que perpetua desigualdades. A professora destaca que o letramento racial funciona como uma alfabetização para compreender as relações raciais estruturantes do país. O processo demanda identificar manifestações do racismo no humor, na linguagem e nas oportunidades negadas, além de reconhecer a história apagada pela colonização.

Para a professora e doutora em educação, negar o racismo é impedir qualquer avanço no debate público. Segundo ela, o país ainda mantém um pacto silencioso de não nomear as desigualdades e sem esse reconhecimento, não há possibilidade de mudança.

Em entrevista ao podcast Na Íntegra, a professora explica que o letramento racial funciona como uma espécie de alfabetização para compreender as relações raciais que estruturam o país. Assim como aprender a ler exige identificar letras e sons, entender o racismo demanda reconhecer a história que foi apagada, tanto nos livros didáticos quanto nas práticas sociais.

“O que foi negado foi justamente o que a colonização fez. Feita pelos europeus, a colonização ficou instituída na nossa legislação, no livro didático, na ementa dos cursos de graduação, no currículo escolar, em que foi contada, por exemplo, apenas uma história, a história do colonizador”, afirma.

A pesquisadora lembra que o racismo se manifesta de diferentes formas, como no humor, quando piadas reforçam estereótipos; na linguagem, quando expressões naturalizam hierarquias raciais; e, principalmente, nas oportunidades negadas. Eugênia Portela defende que antirracismo não é discurso, é prática. É abrir vagas, considerar pessoas negras nos processos seletivos, garantir que elas possam ocupar espaços de poder.

Exercício - Em Mato Grosso do Sul, segundo Eugênia, basta observar quem está e quem não está em determinados ambientes para perceber como a desigualdade opera. “Olhe ao redor. Nos locais que você frequenta, no seu trabalho, nos eventos públicos: onde estão as pessoas negras?”. Para ela, a ausência não é coincidência, é reflexo de uma sociedade que continua reproduzindo desigualdades. Esse exercício simples já revela a estrutura que, historicamente, empurra a população negra para fora dos espaços de decisão.

A professora também chama atenção para os indicadores sociais: as maiores taxas de desemprego, as piores notas escolares, a falta de acesso à educação infantil, saneamento básico, moradia e infraestrutura urbana têm cor e sempre a mesma. “Quando há um problema social no Brasil, há uma cor que predomina”, reforça.

Eugênia destaca ainda que o letramento racial não deve ser responsabilidade exclusiva da população negra. “Antirracismo é tarefa de todos. Pessoas negras e não negras precisam compreender como esse sistema funciona. Nem toda pessoa negra tem letramento racial. Nós mesmas crescemos repetindo piadas e expressões racistas sem perceber”, explica.

Oportunidades - Para quem ocupa posições de liderança, a pesquisadora afirma que não há neutralidade possível e aconselha que quem pode contratar, indicar, promover alguém precisa assumir esse compromisso. Afinal, num Estado onde a maioria é preta e parda, essas pessoas deveriam ser mais vistas na sociedade.

A boa notícia, segundo ela, é que nunca houve tanto acesso a conteúdo de qualidade sobre o tema. Livros, pesquisas e debates estão disponíveis online, muitos deles gratuitos. Para quem quer começar, ela recomenda a leitura de livros, pesquisas e a participação em debates sobre o tema, muitos deles disponíveis gratuitamente online.

Eugênia recomenda os seguintes livros: Movimento Negro Educador, de Nilma Lino Gomes; Racismo Estrutural, de Silvio de Almeida; e Pacto da Branquitude, de Cida Bento. Eugênia Portela também tem produção científica na área.

Nesta semana, a pesquisadora está lançando o livro “Mulheres negras na educação superior - Corpos, fazeres e saberes insurgentes", pela editora Life. A obra, que será distribuída gratuitamente, traz capítulos com investigações sobre as políticas afirmativas e a presença de mulheres negras na educação superior e na ciência.

Para encerrar a entrevista, a professora Eugênia Portela lembra da frase de Ângela Davis: “Não basta dizer que não é racista. É preciso ser antirracista. E isso começa com o reconhecimento de que o racismo existe”, conclui.

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