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Capital

"Louca pra virar jacaré", Nilva viu fila da vacina fechar justo na sua vez

Sem previsão da chegada de novo lote de imunizantes, vacinação da 1ª dose está temporariamente suspensa na Capital

Paula Maciulevicius Brasil | 16/02/2021 12:39
Católica fervorosa, primeira coisa que dona Nilva quer fazer a hora que pandemia tiver dado trégua é ir à missa. (Foto: Marcos Maluf)
Católica fervorosa, primeira coisa que dona Nilva quer fazer a hora que pandemia tiver dado trégua é ir à missa. (Foto: Marcos Maluf)

Religiosa, entre a fé e a piada, dona Nilva mostra que é possível ter os dois. Aos 79 anos, ela diz que estava na "boca da urna" para tomar a vacina quando chegou a notícia que as doses acabaram para a faixa de quem tem 80. Agora, sem nem previsão de chegar sua vez, "virar jacaré" voltou a ser sonho para a senhorinha.

"Minha filha, já comprei até guarda-sol para ficar no Pantanal jacarezando por lá", brinca Nilva Mendes Heimbach. Sem desespero, ela garante que está se cuidando e até pôs limite nas reuniões de família. "Às vezes me reúno, mas nunca passa de 10, se fosse juntar todo mundo mesmo, dava mais de 30", explica.

A ansiedade está batendo forte e a motivação é nobre. "Para amar os outros, primeiro tenho que me amar e me cuidar. Tô louquinha pra tomar, esperando chegar a minha vez", comenta.

Cartão do SUS já está na mão prontinho para ser levado no dia em que Nilva for se vacinar. (Foto: Marcos Maluf)
Cartão do SUS já está na mão prontinho para ser levado no dia em que Nilva for se vacinar. (Foto: Marcos Maluf)

Acompanhando as notícias desde que a vacinação para quem tem 80 anos começou, ela recorda que até se assustou e por segundos pensou que poderia tomar. "Fiquei desesperada atrás de alguém pra me levar, mas aí me lembrei que eu ainda não ia tomar. Não estava com 80 ainda, só em dezembro", conta. Sinal de que para tomar vacina, dona Nilva aceita até a mentir idade. Brincadeira.

A senhora relata que está felicíssima desde que a vacinação contra a covid começou e que espera virar rotina dentro do calendário, assim como são as vacinas de sarampo, catapora, caxumba. "Tudo que é para o bem, você fica querendo, porque não será bom só para si, mas para uma comunidade toda. A gente vai poder se reunir", afirma.

Sobre o desejo de virar jacaré, a dona de casa diz que por ser muito brincalhona, está espalhando isso mesmo. Hoje, ao atender o telefone, respondeu a uma prima que perguntou se com a chuva que anda caindo por aqui ela já tinha virado girino. "Eu disse que não, estou me guardando pra virar jacaré", brinca.

Católica fervorosa, a primeira coisa que dona Nilva quer fazer é ir à igreja sem medo. "Sou praticante e ando desesperada pela comunhão. Quero ir à igreja e receber o Santíssimo. Este é o meu primeiro pedido. Bendigo a Deus por aquelas pessoas que tiveram a capacidade de fabricar a vacina", abençoa.

De nascença, Adélia já tem 80, mas nos documentos, ainda 79. Entre uma idade e outra, ela ainda não conseguiu ser vacinada. (Foto: Arquivo Pessoal)
De nascença, Adélia já tem 80, mas nos documentos, ainda 79. Entre uma idade e outra, ela ainda não conseguiu ser vacinada. (Foto: Arquivo Pessoal)

Nem 79 nem 80 - Duas datas de nascimento e nenhuma dose da vacina. Adélia Junges completou 80 no último dia 7 de fevereiro, no entanto, por ter sido registrada dia 17, não tinha alcançado a idade para ir ao posto. E quando estava para chegar, a vacina acabou.

Sem previsão da chegada de novo lote de imunizantes, a vacinação está temporariamente suspensa para quem ia tomar a primeira dose. O calendário de imunização só será divulgado depois que que chegar novas remessas.

"Eu fiz 80 dia 7, mas não podia ir no posto com o documento errado, eu estava esperando o dia, entro amanhã, mas agora não tem mais vacina", fala.

Ansiosíssima para a vacina, ela completa que "estão de brincadeira com ela", mas acredita que logo logo vai dar certo.

Durante todo este tempo, quase um ano de pandemia, Adélia relata que não sai de casa sem necessidade. Mercado? Só em horários bem vazios e ainda assim, são os netos que fazem as compras. "Não fui pra lugar nenhum, só tenho saído por conta da minha cirurgia de catarata", conta.

O aniversário com direito a bolo e velinhas foi em casa, na companhia da neta e do marido que moram com ela: Mariana e Márcio.

Adélia comemorando os 80 ao lado da neta Mariana e de Márcio, o casal mora com a avó. (Foto: Arquivo Pessoal)
Adélia comemorando os 80 ao lado da neta Mariana e de Márcio, o casal mora com a avó. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Não vejo a hora de tomar vacina para poder viajar, tenho minha família no Paraná. Estou me cuidando tanto que nem gripe eu peguei, e para chegar aos 80 sem se cuidar, não dá né?", adverte.

A previsão é de que novas doses da vacina cheguem no dia 23 de fevereiro, para então a Prefeitura soltar o novo calendário. Até lá, a professora aposentada Waldirene Mathias Garcia Gomes, de 79 anos, também vai ficar só na vontade.

No caso dela, além da ansiedade, o sentimento também é de angústia. "Muita coisa vem acontecendo, amigas minhas morreram de covid, meu sobrinho morreu de covid, isso vai acumulando", diz.

Waldirene é mais conhecida como Lena, apelido dado na infância e consolidado pelo marido, e é assim que ela gosta de se apresentar. "Eu só estou dentro de casa, e assim vou tocando, eu quero tomar porque depois será menos uma encheção na cabeça", fala.

Até oxímetro ela comprou para monitorar caso algum sintoma da covid aparecesse. "A gente não sabe, né? Eu estou aqui quietinha dentro de casa, principalmente porque sou de mais idade, pessoas assim não têm muita resistência física, meu sobrinho que era uma pessoa nova, um rapaz forte, foi embora. É muito ruim perder as pessoas", descreve.

Desde que a pandemia chegou, Lena ficou trancada em casa e as viagens que faz pelo mundo agora são recordações. Até mesmo a ida para Portugal e Marrocos programada para 2020 foi remanejada. "Eu quero viajar, gosto muito de viajar, agora não sei quando vou poder, depende dessa pandemia", lamenta.

Lena em uma das recordações de viagens, foto tirada na Grécia. (Foto: Arquivo Pessoal)
Lena em uma das recordações de viagens, foto tirada na Grécia. (Foto: Arquivo Pessoal)


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