ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  18    CAMPO GRANDE 24º

Capital

Vítimas ainda denunciam Máfia do Câncer ao MPE e Polícia decreta sigilo

Aline dos Santos | 09/09/2013 10:00
Galbino chorou em audiência ao relatar drama do genro, cujo tratamento foi considerado insuficiente. (Foto: Cleber Gellio)
Galbino chorou em audiência ao relatar drama do genro, cujo tratamento foi considerado insuficiente. (Foto: Cleber Gellio)

Quase seis meses depois do escândalo da Máfia do Câncer vir à tona com a operação Sangue Frio, realizada em 19 de março, prossegue a romaria de famílias ao Ministério Público Estadual em busca de informações sobre a morte de entes queridos. A dúvida é se o falecimento foi em virtude da doença ou atendimento inadequado.

De acordo com a promotora Paula Volpe, até hoje as pessoas buscam por respostas. Desde março, ela adotou o procedimento de repassar os dados a órgãos especializados, como Denasus (Departamento Nacional de Auditoria do SUS), ouvidoria da SES (Secretaria Estadual de Saúde) e CRMMS (Conselho Regional de Medicina).

Em julho deste ano, o MPE passou à Polícia Civil 14 casos de mortes de pacientes para verificar se houve homicídio culposo ou doloso, ou seja, se houve intenção de matar. Segundo o delegado Fernando Nogueira, foi decretado sigilo nas investigações. “Já passaram 30 dias e estamos pedindo mais prazo”, afirma.

Das mortes, uma foi no HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian e as demais no Hospital do Câncer Alfredo Abrão e Santa Casa de Campo Grande. Durante operação, a PF (Polícia Federal) apreendeu documentos no Hospital do Câncer e no HU (Hospital Universitário). Também foram alvos a clínica NeoRad e a residência do médico Adalberto Abrão Siufi. Até então, ele era diretor-geral do Hospital do Câncer e um dos donos da clinica, que atende pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde).

Em março, poucos dias antes da operação, o MPE denunciou os diretores do Hospital do Câncer por autocontratação, prática proibida, e valor diferenciado para a clínica de Siufi, que recebia tabela SUS mais 70%. O Ministério Público ainda apontou a contratação de parentes do médico por valores acima do praticado no mercado. Com a operação, a direção foi afastada pelo Conselho Curador do hospital.

No HU de Campo Grande, a Sangue Frio também resultou na troca de comando. Primeiro afastado judicialmente, o diretor José Carlos Dorsa Vieira Pontes pediu para sair. Auditoria realizada pela CGU (Controladoria-Geral da União) em 2012 verificou prejuízo de R$ 973 mil aos cofres públicos. O valor foi obtido após levantamento em contratos do Hospital Universitário que somam R$ 11 milhões.

A análise trouxe à tona uma série de irregularidade: direcionamento de licitação, montagem de processos licitatórios, subcontratação de serviços para empresas ligadas a dirigentes do hospital, superfaturamento e emissão de empenho anterior à adesão em ata de registro de preços.

Varredura – As denúncias de que a rede pública para atendimento em oncologia foi desmontada para beneficiar o setor privado trouxe o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a Campo Grande. Na primeira análise, dos 250 prontuários, foi identificado o desvio de R$ 155 mil. Valor que deverá ser devolvido pela Santa Casa e pelo Hospital do Câncer.

O ministério identificou haver “supertratamento” em grande parte dos tratamentos de quimioterapia paliativa, utilizado para pacientes em estágio terminal da doença. Foi apurado que, em alguns casos, a indicação era até três vezes maior do que o tempo orientado pelos protocolos médicos.

Ao todo, os auditores analisaram 255 prontuários, sendo 78 no HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian; 46 no Hospital do Câncer e 101 na Santa Casa. Também foram alvos dos auditores autorizações de procedimentos. Cento e onze foram emitidas após os pacientes terem morrido.

Audiência da dor - Em 31 de julho, a CPI da Saúde, realizada pela Câmara Municipal, um dos desobramentos das denúncias, ouviu parentes de pessoas que morreram durante o tratamento. Emocionado, o aposentado Galbino Lima, de 59 anos, relatou a perda do genro. O paciente teve câncer gástrico e era atendido no Hospital do Câncer.

Ele contou que após análise do prontuário foi constatado que o medicamento que o genro recebia era dipirona. inda segundo Gabino, na avaliação da força-tarefa, o tratamento foi insuficiente.

Nos siga no Google Notícias