Estava em jogo o nome do Brasil: a outra guerra contra o PY
O local das batalhas estava escolhido. O terreno baldio entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, era o campo de batalha da molecada em uma doida algazarra. Grandes eram as preocupações de nosso Estado Maior. Poderia ocorrer um ataque pela retaguarda. Seis “soldados” foram destacados para protegê-la, um local cheio de tanajuras. A soldadesca estava reunida. Os comandantes de cada grupo recebiam ordens de seus superiores. O encarregado das munições fazia o reparto que era colocado na sacola que cada um levaria para o combate. Dia de grande acontecimento.
Os uniformes do “exército brasileiro“.
O posto de cada um se conhecia assim: cinco tampinhas de garrafa de cerveja pregadas sobre o ombro era para o coronel, quem levava quatro tampinhas era major, três tampinhas era para capitão, e duas tampinhas era tenente. O sargento levava três pedaços de pano no braço esquerdo e o cabo tinha dois pedacinhos. Dava gosto ver o coronel, muito compenetrado, irritadiço, caminhando de lá pra cá, havia assumido um compromisso solene com a nossa pátria. Ali estava em jogo o nome do Brasil. Um passo em falso poderia custar outra derrota. Vinham de um fragoroso revés frente aos valorosos meninos paraguaios.
A vergonhosa derrota: menino mijado nas calças.
Na contenda anterior, não faltou o desfecho ridicularizante. Um dos nossos “soldados” foi preso. Quando o inimigo o cercou em um canto, já exausto, esbaforido, e lhe gritou: “Manos arriba”. Ele caiu desmaiado e perdendo a vergonha, se mijou todo.
A grande desforra.
Eis porque tinha de vencer a qualquer custo. Muito tempo de preparação gastaram. Usariam a “Lei do direito libre”. Daria ao vencedor tirar as calças dos prisioneiros e lhes cuspir nos fundilhos. Uma nova derrota seria a ruína, a desonra. Estavam com muitas munições. Pedrinhas bancas, bolinhas queimadas, cacos de telha, cocos de bocaiuva, e os perigosíssimos cacos de garrafa para cortar os pés. Entre os armamentos: funda de dedo, funda de forquilha, bodoque simples, bodoque duplo e arco para setas. Os dois meninos mais fortes ficavam à distância lançando grande pedaços de madeira pesada. O comandante estava confiante. Teríamos a grande desforra.
Corneteiro! Tocar reunir!
Enchendo os pulmões, o comandante deu a ordem esperada para o corneteiro com sua bela corneta de plástico: “Tocar reunir“. O grande e disciplinado exército estava em forma. Todos armados e bem municiados. E o combate veio. Um viva ao Brasil estrugiu nos ares. Olhos esbugalhados de medo, o comandante tomou a dianteira. Cruzam pelos ares as pedrinhas, as bolitas de barro queimado, os coquinhos de bocaiúva, as esferas de chumbo derretido, os cacos de telha e os temidos cacos de garrafa.
Ganham terreno e vencem!
A luta se torna encarniçada. Um pelotão paraguaio abandona a trincheira. O inimigo se desorganiza. Um grupo de brasileiros ganha o gramado, obrigando a gurizada paraguaia a abandonar seu quartel-general. Após cinco horas de combate, a luta ainda prosseguia encarniçada, mas com predomínio das forças brasileiras. Com audácia, transpuseram a beira do campo inimigo. O grupo do flanco esquerdo, num relâmpago, tomou uma posição estratégica. Entra em ação a munição para combate a curta distancia: as sementes de cinamomo. A desforra estava a dois passos. E veio a carga de misericórdia: “Corneteiro! Toque limpeza de terreno“. Os meninos brasileiros tinham vencido. Ninguém conta como foi o uso da “Lei do direito libre”, aquela de tirar as calças do inimigo e cuspir em seus fundilhos.
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