"Tédio e contas a pagar" mantêm comércio aberto no 1º dia do ano
Nem fechamento das indústrias desanima proprietários de estabelecimentos na saída para Terenos
Com casas aos fundos dos estabelecimentos e familiares no quadro de funcionários, os comerciantes do Indubrasil, polo industrial localizado na saída para Terenos, em Campo Grande, aproveitam para lucrar com o tédio comum no feriado celebrado no primeiro dia do ano.
Se a paradeira já é grande por ser dia de descanso mundial, é ainda maior em bairro dependente majoritariamente do movimento das indústrias. O que resta com o pouco movimento são alguns moradores e os turistas que passam pela BR-262. Mesmo em cenário desfavorável para venda, os comerciantes afirmam que abrir as portas compensa.
Proprietário de uma lanchonete com salgado a R$ 1, Nelson Aranda, 44 anos, atua há três anos na região. Esta é a primeira vez que ele abre mão do descanso nas primeiras 24 horas do ano para trabalhar. O motivo, segundo o comerciante, é mesmo a necessidade. “Hoje em dia não dá para fechar”, explica. A labuta, no entanto, não vai durar o dia todo. A ideia é manter as vendas somente até o final da manhã.
O foco do comerciante Vanderlei Aparecido Quirino, 58 anos, é o turista, o que favorece as vendas em dias de feriado. Artigos para pesca, sorvete e gelo são itens quase obrigatórios para quem vai pegar a estrada para curtir rios e cachoeiras no interior do Estado.
Há 25 anos, a região foi o local escolhido pelo comerciante para morar e trabalhar. “Moro aqui e, como quase todo mundo fecha, compensa quando abre”, explica. Prova disto é que nos menos de 15 minutos que a reportagem do Campo Grande News ficou no local, foram efetuados três vendas.
O descanso da família responsável por administrar o estabelecimento tarda, mas não deixa de vir. Conforme Vanderlei, as portas fecham às 11h e inauguram uma semana de relaxamento. “Descanso só depois da virada do ano”, ressalta.


Os 14 anos de experiência com vendas na região levam Cleber Henrique, 38 anos, a classificar o dia 1º de janeiro como um dos mais lucrativos do ano. Segundo ele, basta ter os produtos certos. “Natal e Ano Novo é gelo e carvão”, afirma.
Ontem, véspera de ano novo, o comerciante manteve a loja aberta até às 20h. Hoje, ele pretende estender o expediente até às 21h. Diante da necessidade e do tédio, dias de trabalho com mais de 10 horas de duração são comuns para quem tem comércio no Indubrasil. “Não tem o que fazer em casa”, explica.
Dono de uma mercearia, Cristian Paredes, 37 anos, afirma que são dois anos seguidos de trabalho no primeiro dia do ano. “Descansar, só depois de velho”. Segundo ele, trabalhar em datas com esta, como foi no Natal, celebrado no dia 25 de dezembro, compensa para quem trabalha em família e não precisa pagar funcionário.