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Comportamento

Mesa de bar vira praia, mas pela quantidade de vendedor e gente pedindo dinheiro

Você é do tipo que se incomoda ou ajuda?

Ângela Kempfer e Thailla Torres | 22/03/2018 07:45
Todos os dias, nas mesas de bares aparecem vendedores de produtos diversos.
Todos os dias, nas mesas de bares aparecem vendedores de produtos diversos.

Quando a mesa de bar fica na calçada em Campo Grande, a gente se sente em uma praia. Mas não é pela maresia ou o sol forte. O que tem gratinado a paciência de muita gente na noite da cidade é a quantidade de vendedores e pessoas pedindo dinheiro ou comida.

Não dá para começar um assunto que logo aparece alguém para interromper, com bombons, produtos piratas, flores, queijos ou pedindo alguma coisa.

Na tentativa de relaxar com os amigos, acaba caindo a ficha de quanto o Brasil piorou nos últimos tempos. É cada vez mais visível o aumento de pessoas na informalidade ou vivendo nas ruas.

Em plena quarta-feira, no bar Velfarre, na rua José Antônio, o grupo de amigos contou quatro abordagens de vendedores. O cabeleireiro Diego Dorneles, 32 anos, diz que não se incomoda, desde que o comportamento seja "respeitoso". "Não pode ser insistente, porque tem uns que não deixam nem a gente continuar a conversa. Fora isso, tudo bem".

 

Nesta turma, amigos preferem ajudar quem vende ou pede dinheiro nas ruas.
Nesta turma, amigos preferem ajudar quem vende ou pede dinheiro nas ruas.

Para quem é dono de bar, não há muito o que fazer e o jeito é conversar com quem percorre a cidade vendendo o que pode. "A gente busca saber qual é o produto que vende", diz o proprietário Rodrigo Hata que vê até vantagem nesse comércio informal. "Tem um lado bom, eles trocam as moedas no caixa e isso ajuda muito".

Na maioria das vezes, a dependência química também é escancarada, como na frente da Morada dos Baís durante shows em dias da semana. "Às vezes eles falam que querem o dinheiro para tomar uma ou fumar", diz Paulo Adriano, de 34 anos. Ao lado dele, Hellen Queiros, de 30, afirma que basta sentar próximo à grade, para presenciar várias pessoas pedindo dinheiro. "A gente dá quando pode, senão só espera que eles saiam".

Tem gente que nem olha para os "intrometidos" da mesa, e segue na conversa. "Eu até já comentei que dá próxima vez quero sentar longe porque toda hora aparece alguém", diz Joana Darc Campos, de 57 anos.

E basta ficar alguns minutos observando para confirmar o assédio. Na noite de ontem, na Morada dos Baís, além de "pedintes", apareceram pessoas vendendo chocolate, pano de prato e Cd's. "Tem muito nessa região. E se a gente não dá nada, eles falam cada palavrão", comenta Marly Rodrigues, de 72 anos.

Mas para quem tem o mínimo de sensibilidade, fica a reflexão. "As pessoas se incomodam com vendedores porque não são elas que tem alguém da família em situação de risco, se tivessem, fariam o que essas pessoas estão fazendo", diz o ator Tonny Di Paula, de 50 anos.

Ingra não abre mão de colaborar com quem está vendendo.
Ingra não abre mão de colaborar com quem está vendendo.
Só numa noite, amigos contaram 4 pessoas vendendo produtos em bares.
Só numa noite, amigos contaram 4 pessoas vendendo produtos em bares.

Se tivesse dinheiro todas as noites, Tonny diz que faria questão de ajudar ao invés de se incomodar. "Eu gostaria muito de ajudar, porque essas pessoas não nasceram na rua, mas em algum momento da vida eles foram levados para essa condição. Por amor, aventura, necessidade ou até violência dentro de casa. E elas fazem isso para não delinquir. Mas, infelizmente a nossa sociedade não está interessada em saber qual é o problema para solucionar ele", afirma.

Ao contrário de expulsar, a administradora Ingra Flores, de 35 anos, fica curiosa para entender a história de quem está na rua. Sempre que alguém chega, ela procura saber um pouco de quem vende ou pede. Ontem, por exemplo, ela fez questão de comprar o último chocolate de um morador de rua que vendia na Morada a R$ 0,50 cada BIS. "São pessoas que chegam na maioria com educação e não vou julgar, porque a gente nunca sabe qual a realidade daquela pessoa. Tenho visto sim muita gente nas ruas, mas elas estão trabalhando, qual o problema?"

Há 9 anos no Brasil, Jorge Luiz, de 34 anos, conhecido como Jorge Peruano é um dos que está sempre pelos bares da cidade. Já ouviu muito não dos clientes, mas ele não desiste de vender flores todas as noites. "É o meu ganha pão", justifica.

Ele vende cerca de 15 buquês por noite, mas apesar do trabalho honesto, admite que a presença, algumas vezes, incomoda quem está no bar. "Tem cliente que nem olha no rosto, só faz um sinal qualquer e manda sair. Logo percebo que ele não está afim".

O único jeito é chegar com calma. "Primeiro peço permissão dos donos e vou de mesa em mesa. Ali peço licença antes de falar. Se eu vejo que o cliente olhou diferente, nem falo, pulo de mesa".

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Do outro lado da rua, na Noroeste, meninos que a todo momento pedem dinheiro.
Do outro lado da rua, na Noroeste, meninos que a todo momento pedem dinheiro.
Morada dos Baís é dos locais onde aparece vários vendedores na noite.
Morada dos Baís é dos locais onde aparece vários vendedores na noite.
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