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Capital

O milagre de Evaldo, 17 dias após sobreviver a ataque de ladrões

Paula Maciulevicius | 11/09/2012 15:24

Trabalhando como vigia, ele teve o corpo queimado por dupla durante roubo

Ferimentos estão por toda parte, mas por dentro ele agradece o tempo todo por estar vivo. (Foto: Minamar Júnior)
Ferimentos estão por toda parte, mas por dentro ele agradece o tempo todo por estar vivo. (Foto: Minamar Júnior)

Evaldo Justino da Silva, 41 anos, carrega consigo duas datas de nascimento. A primeira foi em junho de 1971 e a segunda, foi agora há poucos dias. Na madrugada do dia 25 de agosto ele nasceu de novo quando sobreviveu aos ferimentos provocados pela crueldade extrema de dois ladrões.

Durante um roubo, a dupla jogou solvente e acendeu o isqueiro. O desfecho foi um verdadeiro milagre. Há 17 dias internada na Santa Casa, a vítima conversou nesta terça com o Campo Grande News. A cena é uma daquelas que nunca se esquece.

Com calma e bem devagar, Evaldo fala, gagueja e escuta com dificuldade por conta das ataduras em volta do rosto. Os ferimentos estão por toda parte, os lábios sangram ainda e impedem de dar um sorriso. Mas por dentro ele agradece o tempo todo por estar vivo.

“Foi um milagre. Eu me esfreguei atrás, até o fio arrebentar. Foi o fogo que torrou o fio, aí eu desatei o pé e saí correndo para pedir socorro. Achei que ia morrer, eu gritava chama o bombeiro que eu vou morrer”.

Tudo o que aconteceu naquela noite continua vivo na cabeça de Evaldo. Ele sabe a ordem exata dos fatos desde quando ouviu o barulho da dupla até a chegada do Corpo de Bombeiros.

“Aquela noite eu cheguei na minha vigilância e durante a noite, achei que estavam roubando. Foi uma falha minha de abrir a porta, um já me engravatou e já colocou uma faca no meu pescoço. Eu senti”.

A vítima trabalhava como vigia em uma construção no bairro Jardim Anache. Estava só com dois meses de serviço. Sozinho, ele reagiu ao que o trabalho exigia, como vigilante, saiu para ver o que era. Sem imaginar ao que seria submetido.

“Eles pediam a maquita, aquilo que usa para cortar madeira e furadeira. Mas eu não tinha, não tinha mesmo. Eles me pediram então arma, aí piorou eu não tinha. Até que um deles ergueu minha blusa, procurando, mas não achou nada”, relembra.

Evaldo deu então o único bem material que tinha, o celular que estava novinho. “Eu pedia, não me mata pelo amor de Deus”. A bicicleta velha da sobrinha que ele usava para ir de um serviço ao outro foi levada pela dupla. Se eles tivessem apenas tirado os objetos, hoje, o vigia não estaria em cima de uma cama de hospital, sem previsão de alta.

“Ele falou você sabe o que eu vou fazer com você? Eu vou te matar. Eu pedi pelo amor de Deus, não faz nada comigo, leva o que você quiser”.

O que se sucedeu a partir daí foi a crueldade e a busca pela droga falando mais alto. A dupla, Erick Vinícius dos Reis Belga, 21 anos e Kleiton Alef Santos Nascimento, 19 anos, deixou o lado humano para trás e simplesmente saiu correndo depois de atear fogo no vigia.

Por último, o Campo Grande News pergunta se ele conseguiria perdoar o mal que fizeram a ele. “Eu tenho Deus no coração. A gente não sabe o que falar, mas Deus sabe o que fazer”, finaliza.
Por último, o Campo Grande News pergunta se ele conseguiria perdoar o mal que fizeram a ele. “Eu tenho Deus no coração. A gente não sabe o que falar, mas Deus sabe o que fazer”, finaliza.

“Eles amarraram minha mão para trás e também o meu pé. Jogaram no meu rosto pra eu me afogar, era pra eu engolir. Se eu olhasse pra trás, eles me batiam. Imaginei ali que eles fossem enfiar a faca. Aí jogaram tíner em mim, no colchão e depois o colchão em cima. Ele acendeu o isqueiro e saiu correndo”.

As ataduras pelo corpo não deixam a mostra a gravidade que a queimadura causou. O dedão do pé, por exemplo, a vítima relata que está desfeito, rachou de tanto empurrar o colchão queimado para conseguir se salvar.

Evaldo saiu correndo naquela madrugada e foi pedir ajuda dos pedreiros que moravam na casa ao lado. Se recorda da rapidez com que os bombeiros chegaram e agracede todo atendimento médico da Santa Casa, da enfermagem ao médico.

“Eu quando sair quero ir na igreja. Quero falar o que aconteceu comigo. O que eu passei, não desejo pra ninguém. Em 41 anos a Polícia nunca pediu para ver meu documento, nunca bebi, joguei sinuca, fiquei em bar. Era de casa pro trabalho, do trabalho pra casa”, relata.

A preocupação agora é com a saída do hospital. Mesmo sem previsão de deixar a ala dos queimados na Santa Casa, ele não sabe como vai ser para sobrevier. Evaldo é amável, carinhoso na escolha das palavras, por mais que as pronunciasse com dificuldade. Analfabeto, ele diz que só sabe escrever o próprio nome.

“Todo dia eu penso será que vão me dar emprego? Eu vou conseguir pelo menos um sacolão? Eu não tenho nada, nem como pagar meu aluguel”.

Fora as dificuldades financeiras que podem vir. O receio também é de retaliação por parte da dupla. “Meu medo maior é se eles forem soltos e vierem me perseguir. É disso que eu tenho medo. Eu sempre respeitei adulto e criança do mesmo jeito. E me arrependo demais, porque se eu não tivesse lá naquela hora, hoje eu estaria no meu emprego e eles no deles, se eles têm”.

Por último, o Campo Grande News pergunta se ele conseguiria perdoar o mal que fizeram a ele. “Eu tenho Deus no coração. A gente não sabe o que falar, mas Deus sabe o que fazer”, finaliza.

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