Aos 80 anos, Leizo tem receita de pastel e faz 100 kg de massa por dia
Ele e a família vendem, há 36 anos, o que chamam de “verdadeiro pastel de feira”
Aos 80 anos, Leizo Inoue não guarda só o segredo de como chegar com saúde na idade que tem, mas também a receita de como fazer uma massa de pastel perfeita que conquistou gerações. E não estamos falando de pouca coisa. Ele e o filho chegam a fazer 100 kg por dia para manter a clientela abastecida e a barriga de quem vai até a feira do Guanandi feliz. Há 36 anos vendendo o que eles chamam de “verdadeiro pastel de feira”, o lugar já virou a segunda casa da família.
Por lá, o japonês é conhecido como Paulo e é figura admirada pelos amigos. O gosto pelo negócio nunca saiu da vida de Leizo, que passou os segredos e o tacho de fritura para o filho caçula, o único, entre os quatro, que decidiu continuar a tradição. Mesmo abrindo mão da parte administrativa da coisa, ele não abandona a cozinha e continua fazendo a massa.
Tudo começou em 1988, quando ele e a esposa, Sumie Inoue, hoje com 74 anos, decidiram largar a vida em São Paulo para arriscar uma nova profissão em Campo Grande: ser feirante e vender pastel.
Nas feiras, Sumie também ganhou um novo nome: Márcia. A pronúncia do usado no batismo era complicada para eles. Os dois trabalharam desde então para sustentar a família e contornar as dificuldades financeiras. Hoje, Sumie já não consegue acompanhar o marido nas feiras. Há 12 anos, uma infecção generalizada quase levou a vida dela embora. Felizmente, o quadro foi controlado, mas deixou sequelas.
Antes de chegar aqui, Leizo foi dono de uma mercearia e, anos antes, de um bar. Os negócios não deram certo e, diante da situação, tiveram que ir embora da capital paulista. Leizo também trabalhou colhendo laranja nas plantações do Paraná até que conseguiu ter o próprio negócio.
“A gente morava no SP, em Leme. Lá tocamos um bar e não deu certo, tocamos uma mercearia e também não deu certo. Aí meus cunhados chamaram a gente para vir, eles mexiam com a feira. Viemos e deu certo. Para fazer massa tem muito segredo e eu não trocaria por outra coisa. Agora é com meu filho que administra. O mais velho não gostou de trabalhar na feira e foi para o Japão. Eu não conheço lá. Meus pais são japoneses, eu sou nissei (nascido fora do Japão), nunca quis ir para lá, nunca tive curiosidade”, comenta.
Simpáticos, a família recebe o Lado B na pequena fábrica onde a famosa massa do Leizo é feita. O lugar foi construído ao lado da casa onde moram, no bairro Caiçara, e foi inaugurado pela família há dois anos.
Agora, os planos são investir no maquinário. A mudança já fez grandes impactos para eles. Desde sempre, Leizo fazia a massa na mão. Anos depois, chegou uma máquina que facilitaria o processo. Na época, ele conseguia fazer 30 kg de massa , o que é pouco comparado aos 100 kg de hoje, mas muito, visto que o processo era mais manual.
“Agora meu filho comprou uma máquina nova que modernizou, aí dá pra fazer isso tudo. O segredo é como prensa a massa. Não fica aquelas bolhas grandes, só aquelas pequenas. Na hora de fritar tem que ser tacho grande também. Passei para meu filho. Ele herdou com muita dedicação e ousadia, construiu uma fábrica aqui em casa e modernizou. A máquina facilitou o serviço.”
Aos 34 anos, Bryan Inoue conta que viveu a infância e a vida toda nas feiras de Campo Grande, e que resolveu assumir o negócio por acreditar que a massa do pai tinha mais potencial no mercado. Além das feiras, agora eles vendem para outras pastelarias, escolas e restaurantes.
“Eu sempre trabalhei desde criança nas feiras e não via perspectiva de ter um salário bom fora. Vi que na feira tinha um retorno bom e resolvi investir. Eles não pensavam em expandir, fiz e deu certo. Começou a ficar melhor desde 2016, mas a fábrica ficou pronta há 2 anos atrás. O trabalho que a gente fazia, nenhum funcionário queria, porque era muito braçal.”
Ele conta que, só no domingo, vendem mil pastéis, fora as coxinhas e kibes. A conta na semana sobe para quase 3 mil unidades vendidas. Os sabores são os tradicionais: carne, queijo, frango com catupiri, bauru e pizza.
“Os 100 kg dá pra quase 2.700 pastéis. Nosso padrão é 20 x 10. O que mais sai é carne e queijo, e depois carne com queijo. Temos um de chocolate, com massa de chocolate e recheio de avelã, tem a opção de colocar morango também. O preço vai de R$ 10 a R$ 15, o doce custa R$ 18.”
Márcia também participa da conversa e relembra os anos em que amassava a massa junto do marido.
“Eu fazia coxinha, kibe, lavava as coisas, acordava de madrugada pra fazer. Fiz isso por mais de 30 anos. Tem que ter braço. Antes só tinha uma máquina mais velha. Fazia menos porque era só nós dois. Graças a Deus meu irmão chamou a gente. Antes da feira, eu cuidava dos filhos, cozinhava. Trabalhava muito.”
Bryan acrescenta que os pais são casados há quase 50 anos, e que não fazer mais o trabalho deixa a mãe triste. Ela teve que abandonar após o problema de saúde. A barraca da família Inoue está nas feiras de Campo Grande de terça a domingo.
Na terça é a vez do bairro Cophavilla II, na quarta da Orla Morena, quinta-feira no bairro Rita Vieira, sexta no Nova Bahia. No sábado de manhã eles estão no Coophasul e à noite no Jacy. No domingo a família está no Guanandi, inclusive com a presença de Leizo.
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