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Capital

Em busca de vida melhor, carvoeiros tem “casa” às margens de córrego

Helton Verão | 04/09/2013 09:37
Trio está morando no local há três meses (Foto: Marcos Ermínio)
Trio está morando no local há três meses (Foto: Marcos Ermínio)

“Na Capital, a vida é melhor”. Com base nessa recomendação, dois carvoeiros, um homem e uma mulher, que moravam em Ribas do Rio Pardo, a 103 quilômetros da Capital, na base de carona, chegaram a Campo Grande e acabaram sendo obrigados a improvisar a moradia às margens do córrego Segredo, no Jardim Cabreúva.

Com praticamente a roupa do corpo, os dois foram ganhando mais acessórios, barraca, móveis e utilitários de cozinha. Com a generosidade da população, eles conseguiram mobiliar a "casa", que tem até quadro nas "paredes" improvisadas. Hoje eles têm a “sala de estar”. “Não fiquem na rua, podem entrar na nossa casa”, convidou Sinval Cândido Pereira, 33 anos, acompanhado por Fátima Ferreira Pereira, 51 anos.

Na decoração da moradia, quadros pendurados nos galhos da árvore, com mensagens otimistas e religiosas. “Viemos de Ribas do Rio Pardos em busca de uma vida melhor. Já morávamos na rua lá. Cheguei com a roupa do corpo e ganhei tudo o que tem aqui. Agora estamos sem trabalho, vivemos pedindo dinheiro no semáforo para sobreviver”, conta Sinval, com uma dicção muito boa e se mostrando lúcido.

Em Campo Grande conheceram Sandro, que ainda parecia um pouco “sonolento”, ou embriagado durante a entrevista. E assim esse trio está tocando a vida, há três meses a beira da avenida Ernesto Giesel, próximo à avenida Mato Grosso.

“Conseguimos uma média de R$ 30 a R$ 40 reais no semáforo, dá para nos alimentar bem e até comprar pinga”, conta Sinval. Sobre o perigo de cair no córrego sob o efeito do álcool, os moradores descartam essa hipótese. “Brinco que aqui é meu centro de recuperação, quando bebo umas e fico mal deito aqui e me recupero”, completa o carvoeiro.

Acampamento está montado com barraca, lençóis, cobertas e lonas  (Foto: Marcos Ermínio)
Acampamento está montado com barraca, lençóis, cobertas e lonas (Foto: Marcos Ermínio)
E a foto está contrariando o que disse o homem e a mulher, ou melhor, o casal (Foto: Marcos Ermínio)
E a foto está contrariando o que disse o homem e a mulher, ou melhor, o casal (Foto: Marcos Ermínio)

Detalhe que quando chegaram a casa deles, Sinval e Fátima estavam de mãos dadas e até se beijaram, mas quando questionados se tem um relacionamento amoroso, o homem se esquivou enquanto Fátima acabou entregando. “As vezes rola um creu”, respondeu aos risos, enquanto Cândido fechou a cara: “Brincadeira dela, somos como irmãos”, retrucou.

Fátima conta que foi parar na rua após terminar o casamento, ainda morando em Água Clara, onde conheceu Sinval trabalhando em carvoarias. Sobre as necessidades, eles usam os banheiros de estabelecimentos próximos.

Com uma barraca que mal mal cabe uma pessoa e um colchão de casal, eles dizem estar felizes e admitem dificuldades em dias de chuva. “Quando chove, como foi nesta semana, ai eu fico aqui e eles dois acabam se abrigando em outro lugar, precisamos de muita ajuda e doações ainda”, explica Sinval.

“Somos felizes aqui, claro que se pudesse ter um cantinho para morar seria melhor ainda, mas vamos levando a vida aqui”, concluem os moradores, que pedem ajuda a população com doações de roupas e comida. “É só chegar, sempre terá alguém aqui na nossa casa”.

Outro lado – O que parece inusitado, tem incomodado a população da região onde estão instalados os moradores de rua. A acusação é de que nesses três meses que estão ali, a bagunça é grande, com “cachaçadas”, barulho e sujeira.

“Eles bebem o dia inteiro ali, fazem as necessidades nem nenhuma cerimônia e privacidade, já vimos até fazendo sexo no local”, conta o funcionário de uma empresa que fica em frente ao acampamento, Antônio Vitor de Lima.

“Estão aí há mais de três meses, a noite sempre fica bastante gente ai, de oito até dez pessoas. Estamos se programando para fazer um abaixo assinado para pedir a retirada deles dali”, conta a moradora Tereza Dias, 30 anos, que mora na região há mais de dez anos.

Semelhanças - No mês de agosto, sem dinheiro para pagar o aluguel, o senhor Felipe Galarza, 57 anos pegou os últimos reais que tinha na carteira e pagou um caminhão de frete para levar os móveis até o canteiro da avenida Afonso Pensa, como forma de protestar as condições de vida que está vivendo.

Ele recebeu uma proposta de emprego, da qual não achou boa, mas acusa que um caminhão da Secretaria de Assistência Social levou suas coisas e não teve mais notícias delas.

Para o Cetremi ele não quer ir, e que buscou uma vaga no Cedami (Centro de Apoio ao migrante). O problema é que ele só pode dormir lá por três dias, e garante não ter nenhum dinheiro no bolso.

Para situações envolvendo moradores de rua é recomendado o contato com o Cetremi (Centro de Triagem e Encaminhamento ao Migrante), que está localizado na Travessa Jornalista Marcos Fernandes Hugo Rodrigues, s/n°, no bairro Jardim Veraneio. O telefone de contato é o (67) 3341-2505.

Decoração da "casa" dos moradores,na foto é possível ver um "quarto", "sala" e "cozinha" (Foto: Marcos Ermínio)
Decoração da "casa" dos moradores,na foto é possível ver um "quarto", "sala" e "cozinha" (Foto: Marcos Ermínio)
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