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Capital

Com locação mais cara, caçambeiros perdem trabalho e lixo cresce nas ruas

Devido ao alto custo, procura pelos serviços diminui e resíduos são descartados ilegalmente.

Anahi Gurgel | 19/03/2017 12:14
Caminhão de caçamba ao sair de aterro particular, no bairro José Abrão. (Foto: André Bittar)
Caminhão de caçamba ao sair de aterro particular, no bairro José Abrão. (Foto: André Bittar)

Passados três meses do fechamento do único aterro público de entulhos de Campo Grande, no Jardim Noroeste, as empresas que oferecem transporte e despejo de resíduos na cidade registram prejuízos.

Com custo até 100% mais alto, os serviços de locação de caçambas estão deixando de ser contratados. Como reflexo disso, empresas do setor estão demitindo, enquanto o descarte de lixo em áreas proibidas aumenta.

"A população acha muito caro. Parou de contratar e a situação piorou muito para nós, transportadores. Nossas entregas caíram cerca de 80% e 250 funcionários já foram demitidos”, revela o presidente da Associação Campograndense de Bens Móveis, Bruno Brito Curto. 

Com a interdição do aterro municipal, na região leste da cidade, os caçambeiros podem despejar entulhos somente nas áreas das empresas CGEA Ambiental, no bairro José Abrão, e na ProgemixResilix, no Coronel Antonino. 

Bruno ressalta que as empresas estão colaborando e firmando acordos para amenizar o custo do serviço, que poderia oscilar entre R$ 280 e R$ 300. Com o "alívio" dado pelos aterros particulares, o preço cobrado hoje, conforme a distância, tipo de resíduo e tamanho da caçamba, chega a R$ 250.

Já o valor cobrado anteriormente para despejo no aterro do Noroeste girava em torno de R$ 100.

Também houve avanço para diminuir a burocracia. "Pagamos diretamente para o aterro, sem a necessidade do cliente fazer cadastro prévio, como era exigido no início. Somente pessoa jurídica ainda precisa se cadastrar", explica. 

Mesmo assim, a categoria está insatisfeita. Ao todo, 70 empresas de caçambas estão ligadas à entidade. "De 40 caçambas, 38 estão paradas", conta o sindicalista.

De acordo com o gerente da CGEA Tratamento de Resíduos, Ivan Garcia de Oliveira, no mês de fevereiro uma média diária de 50 caçambas despejaram entulhos na área, isso sem contar os caminhões basculantes que também passam pelo local. No período, o total de resíduo descartado foi de 1.800 metros cúbicos.

“Teremos uma noção melhor a partir de março, pois até o dia 28 de fevereiro, a Solurb ainda recebia material de caçambas. Mas, o movimento aumentou muito", constatou. 

Ele se refere à ação emergencial encontrada pela administração municipal para dar uma destinação adequada às toneladas de entulho que se acumularam pela cidade assim que o lixão foi interditado, no dia 16 de janeiro deste ano. 

A Solurb – empresa responsável pela coleta de lixo doméstico – cedeu espaço no aterro sanitário da Capital para receber e fazer a triagem do material acumulado logo após o fechamento do aterro, que já somava 3,8 mil caçambas espalhadas pela cidade.

Lixo jogado a céu aberto no corredor do Nova Lima (Foto: Direto das Ruas)
Lixo jogado a céu aberto no corredor do Nova Lima (Foto: Direto das Ruas)

Lixo a céu aberto – Com a procura pela locação de caçambas cada vez menor, o que se tem observado é o descarte de entulhos por todas as regiões de Campo Grande, em áreas não autorizadas.

No Nova Lima, Região Norte da Capital, saída para Cuiabá, o conhecido "corredor" do bairro se transformou no "corredor do lixo". 

Animais mortos, restos de construção, peças de motos, aparelhos de tv e até um galão com óleo de motor, compõe a barreira de entulho que acompanha a extensão na estrada. 

"Está um absurdo. Eu mesmo já peguei um trator para abrir caminho no meio do lixo porque estava dificil de passar com carro", conta Maurivan Rodrigues de Rezende, 55, sócio-proprietário de uma indústria de pré-moldados.

Ele relata que até outubro, a Prefeitura realizada limpeza da área e que, desde o fechamento do aterro, a situação só piora. "Todo mundo joga lixo aqui. Tem caçamba, tem caminhão, tem de tudo", conta. 

Maurivan enviou algumas imagens do "corredor do lixo", por meio do Direto das Ruas.

Entulho a céu aberto no entorno do bairro José Abrão, saída para Rochedo. (Foto: André Bittar)
Entulho a céu aberto no entorno do bairro José Abrão, saída para Rochedo. (Foto: André Bittar)

Do outro lado da cidade, no anel viário da saída para Rochedo, mais entulho.

“Aqui está um perigo. Fica esse lixo todo exposto, com risco de dar dengue. Vejo direto caminhões jogando entulho, caçambas sendo descarregadas, moradores também. Mas o que o povo pode fazer? Aumentou muito o preço. O jeito é jogar aí", diz o técnico em ar condicionado Eliezer da Rosa, 43, que jogava na área alguns restos de capim.

O presidente da Associação Campo-grandense de Bens Móveis, Bruno Brito Curto, acredita que, apesar da orientação contrária, alguns caçambeiros estão descartando entulhos em locais não autorizados. 

"Mas isso pode estar acontecendo a pedido do próprio cliente, que não quer pagar a mais pelo despejo nos aterros particulares. É triste, mas para muitos, é o ganhar pão, uma questão de sobrevivência", diz.

Sanções ao descarte irregular - Por meio da assessoria de impresa, a Prefeitura informou que “realiza fiscalizações e orienta a população no intuito de coibir o descarte irregular de resíduos".

Segundo a Prefeitura, as empresas de caçambas estão cientes das sanções caso sejam flagradas realizando o descarte em locais que não sejam devidamente autorizados, bem como qualquer cidadão que, responderá por crime ambiental. 

Complementa ainda que o Município dispõe de legislação específica quanto ao descarte de resíduos. As penalizações são de multas em torno de R$ 8 mil até a perda da licença de funcionamento. 

“Orientamos a população que realize a correta destinação e descarte de seus resíduos em locais devidamente autorizados para o recebimento dos mesmos. A Semadur tem se reunido com a categoria para discutir sobre essas questão”, finaliza.

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