Conserto de moto avaliado em R$ 2,6 mil foi pivô de ameaças e prisão de PM
O impasse sobre o conserto de uma motocicleta, no valor de R$ 2.650, foi o pano de fundo para bate-boca no WhatsApp, denúncias de ameaças e a prisão de um sargento, lotado no Batalhão de Choque, no fim de semana. A prisão provocou reclamações de colegas do policial.
Na versão do comerciante Franklin Nunes Martins, 26 anos, proprietário duas lan house em Campo Grande, o acidente de trânsito, na rua Paraguaçu, no Jardim Tijuca, foi provocado pelo condutor Eraldo Gomes Patrício Junior, 27 anos, que teria invadido a preferencial. Com a motocicleta danificada, Franklin afirma que o outro condutor, que estava de carro, não quis que fosse acionado o Juizado de Trânsito e se comprometeu a custear o conserto.
Contudo, no dia seguinte, ao saber do valor, mandou áudio no celular pelo aplicativo se negando a pagar. Segundo Franklin, ele informou ter cunhado policial militar, enquanto o dono da lan house é irmão de um PM.
Na versão de Eraldo, o carro, que pertence ao cunhado, não bateu na moto e não houve avanço de preferencial. Segundo ele, o cruzamento não tem sinalização e a preferência é de quem vinha pela direita. Eraldo conta que seguia para o hospital, onde faz tratamento para leucemia, e, se sentindo ameaçado, porque o motociclista chutou a porta do carro e fez menção de chamar amigos que estavam próximo ao local, pegou o contato do WhatsApp e disse que resolveria a situação depois.
“No dia seguinte, veio a mensagem dele. Disse que não ia pagar o custo porque não bati na moto. A preferência da via é minha”, diz.
Confusão - Nos áudios ouvidos pela reportagem, fora de sequência, alguém fala pelo condutor do carro que não vai pagar o conserto e que o assunto foi encerrado. Já o comerciante reclama que o cunhado de Eraldo foi armado até sua lan house. O comerciante ameaça transformar o carro em uma “peneira”.
Na sexta-feira, Eraldo fez boletim de ocorrência na Sexta Delegacia de Polícia Civil contra Franklin, relatando a ameaça.
Prisão - Já no sábado (dia 30), Éder Queiroz Gomes, sargento da PM (Polícia Militar), foi preso por ameaçar o comerciante. Segundo Franklin, ele chegou numa viatura do Choque e entrou na lan house com outros dois policiais, enquanto um ficou do lado de fora.
Ainda de acordo com o comerciante, o sargento permaneceu o tempo todo com mão na cintura, em cima do coldre, onde estava uma arma. “Ele chegou falando alto, que se quisesse meu direito, que procurasse a Justiça. Respondi que ia procurar meu direito agora e liguei para o Ciops. A questão é: por que o cara pega uma viatura da PM, do Estado, e vai resolver coisa pessoal. Isso é certo?”, questiona. O sargento teria ido tirar satisfação em nome do amigo.
O comerciante conta que em junho deste ano teve a casa invadida, um imóvel sob disputa, e acordou com uma arma na cabeça. A ação foi de um policial e por isso conhecia os trâmites da denúncia na Corregedoria da PM.
Ele conta que no sábado ficou até 21h na Corregedoria. “Deram voz de prisão para ele. Estava de serviço e não tinha porque estar lá”, diz o comerciante. Franklin afirma que vai pagar o conserto da moto e cobrar na Justiça o prejuízo.
Já Eraldo relata que foi buscar orientação com o sargento, que lhe disse que procuraria o comerciante. “Procuraria o menino para orientação, que procurasse os direitos dele. O Éder sabe da minha situação. Foi fazer orientação ao menino para que não fizesse mais ameaça”, diz Eraldo, que é vendedor atacadista e fez transplante de medula há cinco meses.
Liberdade - O sargento foi solto na tarde de domingo (dia primeiro de outubro). Na decisão, o juiz Mauro Nering Karloho considera os argumentos da defesa de que o crime é de menor potencial ofensivo e de que o preso possui residência fixa, trabalho lícito e bons antecedentes. No entanto, o sargento dever permanecer em funções administrativas.
A assessoria de imprensa da PM informa que o sargento vai trabalhar normalmente, seguindo a restrição imposta pela Justiça. A reportagem entrou em contato com o sargento, que não quis dar entrevista.