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Diversão

Frio e ameaça de chuva não tiram a força da fé no banho de São João

Show de Michel Teló encerrou o megaevento, que reuniu mais de 30 mil pessoas

Por Silvio de Andrade, de Corumbá | 24/06/2025 10:48
Frio e ameaça de chuva não tiram a força da fé no banho de São João
A corumbaense Yamara assumiu a tradição iniciada pela avó, já falecida. Foto: Silvio de Andrade

O corumbaense está acostumado a enfrentar baixas temperaturas no dia de cumprir promessas banhando a imagem de São João nas águas do Rio Paraguai, porém, a garoa no início da noite de ontem, 23, foi uma ameaça a festa no porto geral da cidade. Muitos devotos anteciparam o ritual na beira do rio, com descida de andores durante todo o dia, com a previsão de 10 graus e ameaça da chuva à noite.

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Devotos celebram São João em Corumbá com tradicional banho no Rio Paraguai. Apesar do frio e da ameaça de chuva, fiéis cumpriram promessas banhando a imagem do santo. A festa, que ocorreu no porto geral da cidade, contou com a descida de 18 andores. Muitos devotos anteciparam o ritual devido à previsão de baixas temperaturas e chuva. A tradição, que se repete há mais de 140 anos, envolve emoção, fé e a participação de famílias inteiras. Crianças, jovens e idosos se uniram para homenagear o santo, carregando andores, cantando e rezando. Além do banho da imagem, a festa incluiu apresentações de cururu e siriri, levantamento do mastro de São João e shows musicais. Estima-se que mais de 30 mil pessoas participaram do evento em Corumbá.

O chuvisco cessou, por volta de 20h, aumentando o público e o fluxo de andores na Ladeira Cunha e Cruz em direção às águas geladas do rio. A devota Hilda Hellensderger, 63, descendente austríaca, foi a primeira festeira a banhar o santo no início da noite, quando garoava (por volta de 19h), acompanhada de netos e sobrinhos. “O tempo não ajuda, mas a gente tem que manter a fé”, diz ela.

Frio e ameaça de chuva não tiram a força da fé no banho de São João
Dona Hilda, mesmo se recuperando de cirurgia, chegou cedo para cumprir sua promessa. Foto: Silvio de Andrade

A Fundação de Cultura contabilizou a descida de 18 andores, entre a manhã e a tarde, com a orla quase deserta. Sem a bandinha de sopro para animar a procissão, entre o cântico do hino em ladainha e o frenesi entre gritos e passos de frevo – característica marcante do ritual -, muitos festeiros preferiram o silêncio e não enfrentar o congestionamento de andores na noite.

Emoção e lágrimas - Dona Hilda, recém operada, quis fugir do tumulto e ficou preocupado com a chuva se formando. Ela mantém a tradição da família de 80 anos, iniciada com a mãe boliviana, Pastore, e agradece a São João por ter sido salva após uma cirurgia complicada há dez anos. “No dia de São João eu sai do risco de morte, foi como um milagre, milagre do nosso santo”, relata.

Frio e ameaça de chuva não tiram a força da fé no banho de São João
Show de Michel Teló, ja na madrugada desta terça-feira, encerrou a festança pantaneira. Foto: Clóvis Neto

As manifestações se multiplicam e muitos devotos preferem a celebração muito particular, sozinhos com a imagem do santo. A jovem Yamara Rayza, 36, desceu a ladeira sem movimento, ao lado do marido, Bruno, para um momento só seu. Segurando a imagem do santo, ela tocou nas águas do rio e rezou em silencio, por alguns minutos, com a mente voltada para sua avó, Beth Vaz, que faleceu há dois anos.

“Minha avó era devota de Xangó e São João e eu a acompanhava desde criança no cumprimento de sua promessa, ela gostava de passar debaixo dos andores. Por isso estou aqui dando continuidade a essa sua vontade e fé. Eu também me identifico muito com o santo”, relata Yamara, que se emociona e chora ao lembrar da avó boliviana.

Frio e ameaça de chuva não tiram a força da fé no banho de São João
Antony, de 9 anos, carrega o pequeno andor para a avó cumprir sua promessa. Foto: Silvio de Andrade

O pequeno guardião - No sobe e desce dos andores, do mais simples ao mais ornamentado, aumentando o fervor em torno da celebração, a presença das crianças é marcante. Antony Davi, de apenas 9 anos, é o guardião do mini andor com o qual desce a ladeira todo ano para acompanhar a avó, dona Larissa Gonçalves, 69, no cumprimento de sua promessa.

“Meu neto é o responsável pelo andor, e hoje é ele quem carrega até o rio”, conta a avó, orgulhosa, mantendo uma tradição de 14 anos após se recuperar de uma grave doença, que credita ao milagre de São João. O neto ouve, ao lado da mãe, Jocilene, 39, e também demonstra sua fé: “eu me sinto feliz em ver minha avó feliz, carregar o santo até o rio é muito bom, eu gosto e acredito nele”.

Frio e ameaça de chuva não tiram a força da fé no banho de São João
Fiéis não se intimidaram com a água gelada do Rio Paraguai e cumpriram o ritual. Foto: Silvio de Andrade

O movimento pela ladeira diminuiu já próximo a meia-noite, mas uma multidão se concentrava próxima ao rio para cumprir um dos símbolos da fé: passar embaixo dos andores para, segundo a crença, se prosperar, ter muita saúde e até casar. Maria José de Paula, 48, veio de Campo Grande para conhecer a festa e estava deslumbrada. “É incrível, me senti mais leve depois de passar no andor”, disse.

Cururu e siriri - Um dos andores de maior expressão é o da prefeitura, com o qual se cumpre um dos pontos altos do ritual: o levantamento do mastro do santo e roda de cururu e siriri, com a presença dos cururueiros e suas violas de cocho. O prefeito Gabriel de Oliveira participou, ao lado de seu secretariado e convidados, dentre eles Eduardo Mendes, diretor-presidente da Fundação de Cultura do Estado.

Frio e ameaça de chuva não tiram a força da fé no banho de São João
Cururueiro Sebastião Brandão comandou a roda de cururu e siriri na cerimônia oficial. Foto: Clóvis Neto

Gabriel destacou o papel dos festeiros na preservação da tradição centenária. “Nós somos patrimônio cultural imaterial do Brasil. É a fé, é a nossa cultura, é a tradição que cada um deles mantém”, afirmou. “É tradição viva, mais de 140 anos de história, protagonizados exclusivamente pela população de Corumbá”, completou.

Segundo os organizadores do evento, mais de 30 mil pessoas passaram pelo circuito montado no porto geral, de sexta-feira, 20, até a madrugada desta terça-feira, quando a atração foi o cantor Michel Teló. O público poderia ter sido maior se não fosse a celebração semelhante realizada também em Ladário, cidade vizinha a Corumbá, onde a prefeitura investiu em shows nacionais, atraindo principalmente os jovens.

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